Análise da série documental sobre Elize Matsunaga
- Juliana Marchi
- 19 de jul. de 2021
- 2 min de leitura
Assisti à série documental do Netflix sobre a Elize Matsunaga, que em 2012 assassinou e esquartejou o marido Marcos Matsunaga e, após condenada em julgamento a quase 20 anos de prisão, cumpre pena na penitenciária de Tremembé. Quero deixar claro que não pretendo fazer nenhum juízo de valor, tampouco discutir questões judiciais. Minha pretensão é falar sobre SAÚDE MENTAL. Se você ainda não assistiu à série, quero alertá-lo de que esse post contém alguns spoilers.
Para começar a reflexão, nunca podemos perder de vista que toda história tem dois lados e a mídia sempre escolhe o mais sensacionalista. A maneira como as notícias são dadas influenciam como nós formamos nossa opinião sobre elas. À época dos fatos, Elize foi vista como uma assassina fria e seu então marido como vítima de uma esposa à beira da loucura. Pois bem, vamos aos fatos.
Elize nasceu no interior do Paraná, na zona rural. Foi abandonada pelo pai aos três anos de idade e criada pela avó. Aos 15 anos sofreu abuso sexual do padrasto e fugiu de casa. Foi atendida pelo Conselho Tutelar e entregue à tia materna, que cuidou dela desde então. Na juventude encontrou na prostituição uma maneira de pagar sua faculdade de Enfermagem. Foi através de um programa que conheceu Marcos que, na época, era casado.
Eles começaram a namorar e se casaram. Elize viveu uma relação abusiva, era constantemente humilhada, sabia que o marido tinha amantes e resolveu se separar, porém, descobriu que estava grávida e voltou atrás. A filha do casal nasceu, mas nada mudou. Segundo Elize, na noite do crime, ela sofreu violência psicológica e física do marido quando, num ato desesperado, atirou em sua cabeça e o matou.
O histórico dessa mulher é de perdas, abusos e intenso sofrimento mental. Quando nossas feridas estão abertas, não adianta colocar um band aid para tentar cicatrizá-las. Ou seja, o “príncipe encantado” não apagará todos os nossos pesadelos emocionais do passado, porque eles são NOSSOS. Elaborar nossas dores nos possibilita viver de forma livre, sem precisar repetir ciclos de violência com os quais nos acostumamos. Isso é possível através da psicoterapia.
O julgamento de Elize foi dominado pelo machismo e por acusações morais contra ela, na tentativa de mostrar como Marcos era um excelente marido ao proporcionar a ela “vida de princesa”. Acontece que aquela princesa era violentada. Uma relação assim denuncia uma tragédia anunciada. Infelizmente Elize não teve inteligência emocional para sair dessa relação em paz e ter a chance de reconstruir sua vida, a partir da ressignificação de suas dores.
Desde o dia em que Elize foi presa, em 2012, por decisão judicial, nunca mais viu sua filha. Não sei se existe punição maior para uma mãe do que essa.
E só para concluir, não falo especificamente sobre Elize, mas sobre todos nós, que sobrevivemos às nossas dores e buscamos viver apesar delas: não somos definidos pelo que fizemos. Isso é cruel demais. Mas somos responsáveis pelas consequências das decisões que assumimos em momentos de insanidade, porque buscar saúde mental é nossa obrigação!
Juliana MarchiCRP 06/99990
Psicóloga Clínica
Atendimento online (15) 99707-9802
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